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* A Sinfonia Do Terror *

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Há mais coisas entre o céu e a terra do que sonha a nossa vã filosofia.

–Hamlet, William Shakespeare.

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Roberto Aguilar tinha cinquenta e dois anos e era um médico neurocirurgião de prestígio na sociedade, famoso no mundo todo pelas suas pesquisas de grande contribuição para a medicina. Ele, inclusive, recebeu muitos prêmios que comprovavam o quão confiável ele era. Nenhuma pessoa jamais havia morrido em suas mãos, portanto era considerado um grande gênio na arte de salvar vidas. O seu sucesso era tanto que ele dava palestras nas melhores universidades federais do país, explicando a enorme importância da medicina na vida das pessoas e toda a valorização e respeito que todos os médicos mereciam.

Roberto parecia ter a vida dos sonhos, ganhando uma boa quantia em dinheiro com uma profissão que amava e pela qual zelava com todas as suas forças. Contudo, o que ninguém além dele sabia, era que ele era atormentado. Atormentado não por uma força mundana, terrena, como os assaltantes ou o trânsito caótico. Ele era atormentado por uma força irregular, não linear, incompreensível e, segundo muitos, inexistente. Era a força de outro mundo, um mundo que poucos ousariam vislumbrar, um mundo permeado de perigos, mistérios e desfiladeiros sem volta: O mundo daqueles que já largaram as raízes da existência no plano dos vivos. Era o mundo indomável pelos mortais, o mundo dos espíritos. E nenhum ser vivo jamais teria poder num mundo como aquele. Era o mundo deles, as regras também pertenciam a eles.

Roberto, por algum motivo, foi o escolhido por esse mundo para sofrer impiedosamente durante todas as noites, sentindo escorrer cenas horríveis por todas as inúmeras bifurcações da sua mente, onde brotavam pesadelos sufocantes, que lhe roubavam o sossego e não lhe deixavam dormir. Muitas vezes o doutor passava a noite em claro, com imensas olheiras se pendurando nos seus olhos tão negros quanto as trevas.

Apesar de tudo, ele era muito devoto, rezava todos os dias para que aquela assombração terrível o deixasse em paz por pelo menos uma noite, mas, infelizmente, sem falta ela sempre o visitava, invadindo os seus sonhos leves como algodão macio e transformando-os no mais grosso chumbo que pudesse chafurdar a sua alma na mais espessa e fétida lama imaginável.

O tão misterioso e aparentemente indecifrável devaneio que lhe privava o sono era tão enigmático que nenhum livro dos sonhos conseguia explicá-lo por completo. Roberto tentava cartomantes e médiuns, mas todos eles lhe diziam que aquele sonho não tinha nenhuma razão para se manifestar, que nada era plausível o suficiente para esclarecer as dúvidas que tanto entorpeciam o doutor. Por esse motivo, Roberto encontrava-se constantemente frustrado pela ausência de respostas cabíveis, pois desejava a todo custo livrar-se daquele pesadelo que era sempre o mesmo, repetindo-se noite após noite, impedindo-o de adormecer.

Era um devaneio completamente incoerente com a realidade. Roberto via-se caindo num desfiladeiro escuro e vazio, sentindo os pelos da sua nuca se eriçarem, o frio encontrando uma morada no seu abdômen e a resistência do ar lhe cortando de fora a fora. Em meio à queda aparentemente infinita, o médico gritava no seu mais pleno desespero, implorando para que fosse salvo. As suas preces, naquele momento, eram atendidas e o seu corpo era salvo, caindo diretamente nos braços de uma bela e misteriosa mulher, muitíssimo mais jovem do que ele.

De repente, todo aquele vazio escuro em que antes se encontrava, mudava de forma quando toda a sua vida encontrava os braços daquela bela figura de mulher. A nova forma vista era um imenso salão, completamente vazio, a não ser pelo belíssimo e majestoso lustre de cristal no teto e pelo caríssimo piano de cauda, que se localizava num dos quatro cantos do salão. Era um piano de valor inestimável, pois se via facilmente que era feito de ouro, com exceção das suas teclas, que, em vez de serem brancas e pretas, eram pretas e vermelhas. Aquele vermelho das teclas era num tom forte, tão vibrante quanto o sangue que corria nas veias de Roberto. Vermelho. Ele, sem qualquer explicação, tinha pavor daquela cor.

A mulher, que antes segurava Roberto nos braços, quando via a figura do salão completamente formada, desaparecia no ar, deixando que o doutor não houvesse mais em quem se apoiar e caísse no duro chão de sinteco do salão. Quando o médico olhava em volta para descobrir onde a mulher havia se materializado, notava que ela estava bem em cima do lustre de cristal, balançando-o com toda a sua força. Surpreendentemente o lustre não quebrava, parecia ser muito resistente. Roberto não compreendia porque a misteriosa mulher estava rodopiando no lustre e, sem qualquer expressão de medo no olhar, questionava-a:

_Quem é você?

Ela inicialmente o ignorava, mas, mesmo assim, ele insistia na mesma pergunta, repetindo-a três vezes até que ela finalmente lhe desse ouvidos e desaparecesse de cima do lustre, reaparecendo a cerca de trinta centímetros dele. O perfume cítrico dela lhe invadia as narinas, colocando-o em um apaixonante estado de torpor por alguns segundos. Ela estalava os dedos, tirando-o do transe e ajeitava o seu longo vestido roxo com preto, tirando a máscara preta que antes cobria os seus olhos, revelando a preciosidade dos seus olhos mais dourados do que todo o ouro do mundo. Ela mordia os seus sedutores lábios vermelhos e proeminentes, pronunciando as suas primeiras palavras, revelando uma voz grave e poderosa:

_Quem sou eu? Oh, quem sou eu além da bailarina... – ela sempre fazia uma pausa antes de continuar a sua apresentação – A bailarina que dança entre a loucura e a sanidade! – olhava-o fixamente naquele momento – Não me tema. Eu só quero uma dança... Uma dança pelo mundo das trevas! – ela liberava uma risada sarcástica e desaparecia. Roberto tentava encontrá-la e sentia um imenso arrepio na alma quando percebia que a delicada mão dela lhe tocava o ombro, fazendo-o dar um salto de susto, ao notar aqueles finos dedos lhe acariciando. Ela ria de cada grito de pavor que ele soltava e parecia se divertir com a situação.

_Fique longe de mim! – esbravejava Roberto, tentando atingi-la com um soco, completamente em vão, já que ela desaparecia justo no momento em que ele estava prestes a acertá-la, novamente reaparecendo em qualquer outro ponto do salão.

_Apenas toque para mim... – murmurava ela, apontando para o piano de teclas vermelhas – E eu te deixarei em paz...

Ele, notando que teria a oportunidade de se livrar dela se a obedecesse, sentava-se diante do piano e inutilmente tentava estudá-lo, já que não tinha a mínima noção de como desvendar o segredo daquelas malditas teclas e produzir com elas uma melodia agradável. Ele tocava uma tecla e já sentia o suor escorrendo pela sua nuca, pois não fazia ideia de como agradar a bailarina, sendo que nunca teve habilidade nenhuma para a música e, na verdade, nunca havia visto um piano de perto.

_Vá! Toque a canção que está na partitura bem diante do seu rosto! – bradava a bailarina, a sua voz grave ecoando por todo o salão – Toque a canção dos espíritos! O que você está esperando?

_Mas eu não sei tocar! – respondia num tom de desespero.

_Ora, não seja por isso – ela não parecia tão ameaçadora naquele momento – Permita que eu mesma toque...

Ele se levantava do banquinho e gentilmente permitia que ela se sentasse no lugar dele. Ela estalava os dedos e dava início à doce insanidade daquela sinfonia macabra. Os seus pés calçados em belíssimas sapatilhas pretas apertavam os pedais do piano e as suas mãos brancas como as de um fantasma deslizavam pelas teclas, produzindo uma melodia completamente afinada e de acordo com a partitura, porém impactante e de certa forma assustadora. Roberto não sabia por que, mas sentia que estava completamente hipnotizado pelo modo como ela tocava aquele piano. Ele não conseguia evitar, pois a melodia parecia envolvê-lo como um abraço de mãe e no segundo seguinte parecia puxá-lo com violência para perto da bailarina, sentindo em cada um dos poros da sua pele todo o magnetismo produzido pela bela figura de mulher que tocava em completo êxtase aquela sinfonia tão estarrecedora e ao mesmo tempo tão envolvente. Quando notava, já não controlava mais os seus movimentos, pois dançava involuntariamente em passos completamente insanos e um tanto inimagináveis ao som da canção dos espíritos. Aquilo era incrível. Insana e apaixonadamente incrível. Assustadoramente incrível.

A bailarina, quando percebia que ele estava dançando loucamente de tão entorpecido pela canção, levantava-se do piano e dançava junto com ele. Estranhamente a canção continuava, mesmo que ninguém mais estivesse tocando o piano, pois as teclas do piano naquele momento passavam a se mexer sozinhas. Bizarro e ao mesmo tempo encantador.

A bela mulher segurava os braços de Roberto e o guiava pelo salão, rodopiando com ele numa valsa não convencional, pois o homem que deveria guiar a mulher, mas, naquela dança que eles faziam, o que estava ocorrendo era exatamente o oposto. Era ela que o guiava. A bailarina o fazia acertar todos os passos, nunca deixava que ele errasse. E ele dançava, dançava inocentemente conforme a música imposta pela misteriosa moça. Ela era realmente uma exímia dançarina, pois a sua valsa era tão bela e cuidadosa que nem parecia algo daquele mundo. Parecia divino. Ou talvez o contrário, talvez demoníaco. Ela podia ser um demônio, mas se realmente fosse, seria um sedutor demônio. O mais sedutor de todos os demônios.

Quando Roberto menos esperava, a bailarina arrancava um punhal de dentro do seu vestido e lhe exibia. Ele, assustado, saía do transe em que se encontrava e saía correndo. A música continuava a tocar. Naquele momento, corria um vento fortíssimo pelo salão e de repente várias figuras um tanto disformes tomavam conta do lugar. Eram os espíritos. Os espíritos das trevas. Era para isso que a música servia, para atraí-los. Não era por um motivo qualquer que ela se intitulava “a canção dos espíritos”. Todos os espíritos das trevas se materializariam no local apenas para ouvir a canção. Com tantos espíritos presentes, formava-se uma enorme barreira de ectoplasma, pela qual Roberto era incapaz de passar.

Como se estivesse num beco sem saída, Roberto não via escolha senão implorar para que a bailarina não o fizesse mal. Infelizmente as suas preces não eram ouvidas pela impiedosa dançarina, que já levantava o punhal, prestes a usá-lo.

A música só estava cada vez mais e mais alta. Todos os espíritos davam-se as mãos, numa roda em torno dos dois, pronunciando as seguintes palavras aparentemente sem sentido:

_O veneno da vingança invadirá a sua boca e te queimará como ácido sulfúrico. Roberto pagará pela morte da esquizofrênica. Roberto pagará pela morte da esquizofrênica!

O médico, ouvindo aquelas palavras ressoando e ressoando por todas as janelas da sua mente, lembrava-se da esquizofrênica. Um dia, em seu consultório, recebeu uma garota de doze anos, conhecida em toda a cidade como a portadora de uma grave esquizofrenia. Como ele era um neurocirurgião, a pobre menina implorou que ele a curasse do problema. Ele lhe contou que a esquizofrenia era uma doença incurável, portanto ela teria que aprender a conviver com o seu problema. Furiosa com a resposta, a criança destruiu todo o seu consultório e saiu correndo em disparada, antes mesmo que o doutor pudesse explicar que a doença não tinha cura, mas tinha tratamento. No dia seguinte, soube-se que a garota cometeu suicídio. Roberto, com medo de que o culpassem pela morte dela, encobriu a história. Exatamente seis anos depois, o pobre médico começou a ter o seu pesadelo com a misteriosa bailarina. A bailarina. Ela aparentava ter dezoito anos, exatamente a idade que a garota esquizofrênica teria se ainda estivesse viva. Então a bailarina... Ela era a garota esquizofrênica!

_Eu não tenho culpa pela sua morte, bailarina... – implorava Roberto, quando já notava que o punhal afiadíssimo, feito da mais pura prata, estava mais próximo do que nunca da sua cabeça.

_Se tinha a consciência limpa, por que encobriu a história? – questionava a bailarina, já cansada das lamúrias do médico, que, na mente distorcida dela, era um negligente. Devido à sua doença, embaralhava as informações no quebra-cabeça que era a sua mente problemática e não conseguia entender o que o doutor tentava lhe dizer. De fato a culpa não era dele. Mas as vozes que gritavam abafadas na mente dela diziam exatamente o contrário. “Ele é o culpado pela sua desgraça!”, berravam incessantemente.

A canção ainda continuava. O piano jamais parava de tocar, mesmo que ninguém estivesse encostando um dedo sequer nas suas teclas. Os espíritos em volta da bailarina e de Roberto entoavam o cântico com cada vez mais vigor:

_A vingança exige sacrifício! A vingança exige sacrifício!

A bailarina, então, durante o ponto máximo da canção dos espíritos, rasgava impiedosamente a cabeça de Roberto, usando o seu punhal de prata. Ouviam-se urros de dor do próprio doutor. O punhal deslizava para baixo, cortando o seu pescoço, o seu coração e o seu estômago. As entranhas do médico escapavam vagarosamente da sua fina camada de pele e o sangue, ainda quente, escorria pelo sinteco do salão. A bailarina, em toda a sua frieza, permanecia inexpressiva, enquanto despedaçava todas as veias, músculos, vísceras e ossos do idoso, corroendo-o por completo e reduzindo tudo o que ele significava a meros e nojentos pedaços de carne sangrenta espalhados pelo salão. O odor fétido dos restos mortais da vítima se misturava ao cheiro cítrico do perfume da bailarina, fazendo-a sorrir maliciosamente.

E era naquele momento de pura dor que Roberto acordava. Sempre quando tinha o pesadelo, não conseguia mais dormir a noite toda. Porém, um dia ele despertou e gritou:

_Já chega! Eu não vou ter mais medo dessa morta estúpida!

E foi para o seu trabalho, confiante de que a bailarina não o perturbaria nunca mais.

O seu primeiro paciente do dia precisava urgentemente retirar um tumor no cérebro, pois aquela era a última chance de sobrevivência, já que o tumor se encontrava muito desenvolvido para se usar qualquer outro método que não fosse a cirurgia.

Roberto logo se aprontou para a realização da cirurgia. Na sala de cirurgia, ele seria inspecionado por vários enfermeiros e outros cirurgiões, que o auxiliariam caso necessário e o observariam cuidadosamente, para que a cirurgia tivesse a mínima possibilidade de erro e, consequentemente, fosse um grande sucesso.

Quando Roberto deu início à cirurgia, ouviu uma canção. Uma canção familiar. Quando notou que aquela canção que ressoava sem parar na sua mente era a mesma do seu pesadelo, trouxe à tona, em seus pensamentos, lembranças que gostaria de esquecer. Paralisou por alguns segundos a cirurgia, deixando os enfermeiros e cirurgiões surpresos, fazendo-os imaginar que algo estava errado.

E a música continuava, tão somente continuava... Mas apenas na mente de Roberto, pois ninguém mais a ouvia. Ele, dominado pelos macabros acordes da canção, começou a dançar por toda a sala de cirurgia, deixando todos os seus colegas de trabalho bastante intrigados. Quando uma enfermeira lhe tocou o ombro, perguntando o que estava havendo, Roberto se virou para ela, com um dos seus instrumentos cirúrgicos cortantes e dilacerou todo o corpo dela, pois era isso o que a voz da bailarina em sua mente mandava que ele fizesse. Através da canção, ela havia se apoderado dele. Ele estava seduzido pela esquizofrênica. E tudo o que ela fizesse ecoar pela sua mente naquele momento, ele obedeceria, pois estava completamente possuído pelo espírito dela. Ele estava com o demônio no corpo. Mas não com um demônio qualquer. Era o demônio da bailarina. O belo e sedutor demônio da maldita e perturbada bailarina esquizofrênica.

Os cirurgiões e as outras enfermeiras ficaram completamente estarrecidos com a situação. A maioria tentou fugir, enquanto um pequeno grupo de cirurgiões tentou impedi-lo de cometer mais atrocidades, o que foi absolutamente em vão. Tomado pela força e a raiva dos insanos, pela canção dos espíritos das trevas e pela grave voz da revoltada bailarina em sua mente, Roberto era invencível. Não permitiu que ninguém fugisse, tampouco o impedisse de prosseguir a sua macabra empreitada. Dilacerou todos os que estavam presentes na sala, inclusive o paciente. Ouviam-se gritos por toda parte, pois todos estavam morrendo de forma cruel e brutal, sentindo todo o calor das suas peles ser esvaído pelas mãos de Roberto, um médico antes tão respeitado e amado por todos. A carne deles já estava pútrida e sem valor, as suas entranhas estavam mais do que dilaceradas, estavam completamente embaraçadas umas nas outras, pois já não era mais possível diferir um coração de um estômago. Roberto havia acabado com todos, com todos os seus fiéis colegas de trabalho. Os pulmões deles já não puxavam mais oxigênio e todas as suas histórias haviam se perdido para sempre. Para sempre.

A polícia foi chamada há alguns minutos por um paciente que estava na sala de espera e ouviu os gritos na sala de cirurgia. Quando todos aqueles homens fardados chegaram e arrombaram a porta, viram Roberto encolhido num canto da sala, com todos os corpos dilacerados próximos a ele. O objeto cortante ainda estava em suas mãos. O doutor, ainda sob o poder da bailarina, usou aquele mesmo objeto e perfurou o próprio corpo, enquanto os policiais assistiam à cena, sem saber como reagir diante daquela situação inesperada.

_Ele está se automutilando! – gritou um dos policiais.

_Mais do que isso! – um deles respondeu – Ele está cometendo suicídio!

A bailarina ordenou que ele usasse o seu objeto cirúrgico para perfurar o próprio corpo. Ele, sem escolha, obedeceu-a, dilacerando as suas vísceras e por fim cravando a lâmina afiada no seu peito, rente ao coração, perfurando várias veias e artérias extremamente importantes, além de finos vasos capilares, que, quando perfurados, liberaram uma quantidade enorme de sangue. Roberto, então, desfaleceu na frente de todos. Terrível. Terrível como até mesmo o tão respeitado médico havia se tornado o que todos se tornariam um dia: Um monte de carne inútil sobre os ossos que nunca mais se moveriam, pois os batimentos cardíacos haviam cessado. Ele estava como qualquer outro morto: Parado. Tão somente parado...

A bailarina, vendo que o seu trabalho estava completo, finalmente saiu do corpo dele, pronunciando as seguintes palavras, mesmo sabendo que não seria ouvida, já que não havia ninguém na sala capaz de enxergá-la:

_O mal é inevitável! – e se misturou em meio ao ar, já pútrido pelas carnes em decomposição das enfermeiras e dos cirurgiões. Tornou-se disforme e, por fim, se esvaiu, cumprindo a sua missão macabra naquele plano, deixando o aroma cítrico do seu perfume no ar, como uma lembrança sórdida dos seus atos brutais de vingança completamente sem fundamento. Ela era mais do que uma bailarina esquizofrênica, mais do que o mais sedutor dos demônios. Ela era uma psicopata. E, agora que a sua vingança estava completa, detinha todo o poder das trevas em suas finas e brancas mãos. O mundo estava perdido. Aproximava-se o apocalipse. E era ela, era ela, a bailarina do apocalipse.

–--*---

Os peritos estavam analisando o corpo de Roberto. Encontraram um objeto suspeito em suas estranhas.

_Uma sapatilha preta! – exclamou um dos peritos – O que isso significa?

Ouviu-se uma voz atrás dos peritos:

_Isso significa... – era a voz dela – Que o fim está próximo!

E dilacerou todos os peritos, com a sua força descomunal. Já que havia terminado a sua vingança, a bailarina cumpriu o seu propósito num pacto que havia feito com as trevas, e, dessa forma, podia voltar à vida... E mais poderosa do que nunca!

Ela, dançando a temida canção dos espíritos sobre os corpos dilacerados dos peritos, cantarolava amargamente:

_Oh, quem sou eu? Quem sou eu além da bailarina? – fez uma pausa - A bailarina que dança entre a loucura... E a sanidade!

E riu copiosamente, na sua mais plena alegria de garota esquizofrênica.

Fim.

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